O Flamengo foi mal do Brasileirão?! O Cruzeiro foi campeão? Quem se importa? |
Mais
um Brasileirão da "Era dos pontos corridos” chega ao fim. Só falta bater o
ponto e apagar as luzes antes do pano cair, burocraticamente. Ou alguém vai
sentir falta? Provavelmente, só a torcida do Cruzeiro, por conta dos golaços do
Éverton Ribeiro, porque, tirando isso, que estorvo de Brasileiro...
O
sistema de disputa é tão chato que o objetivo anunciado pelas equipes (e
inflado pela mídia) deixou de ser o título; ninguém admite mais querer ser
campeão da parada, mas integrar uma sigla abstrata (G4) e desacreditada (porque
deverá virar G3). Para os jogadores, esse discurso é interessante porque tira
um pouco da responsabilidade ante a torcida de se prometer o título - “nossa
meta é estar entre os quatro primeiros”! Já para a mídia, em geral, e para a detentora
dos direitos televisivos, o mesmo discurso estimula um número maior de torcedores
a seguir os jogos, afinal, a distância entre o seu time e o “novo” objetivo
será sempre muito menor que para a conquista do campeonato – nada como o bom e
velho “são muito mais chances de ganhar” para atiçar as massas. No meu
entendimento, é um tiro que saiu pela culatra, uma vez que antes os times se digladiavam
por 8 vagas de disputa para a fase de “mata-mata”, tornando a disputa muito
mais acesa, entre mais equipes e por mais tempo – até a última rodada da fase
de classificação, por assim dizer.
Se,
nas últimas semanas (onde até a Fernanda Lima ganhou mais espaço na mídia que a
última rodada do campeonato), estivéssemos contemplando o espetáculo de uma boa
e velha semifinal, duvi-deo-dó que algum dos quatro clubes envolvidos na virtual
disputa pelo título estivesse tão conformado, simplesmente, com a vaga para a
Libertadores, como ora se vê no semblante dos atuais possíveis contemplados.
Estariam, isso sim, com a faca entre os dentes para alcançar à final, e depois
para conquistar o caneco. Caso não obtivessem êxito, a vaga para o torneio
continental os afagaria o ego combalido... Qual nada! O que era consolo para os
perdedores de ontem se tornou troféu para os falsos vencedores de hoje! O
conformismo é generalizado, ou duvidam que neste Domingo haverá neguinho
chorando a torto e à direito pelos campos do Brasil?
Se der Furacão, Paulo Baier será o chorão-mor,
puxando fila, com Luiz Alberto logo atrás, se debulhando em lágrimas:
ex-rejeitados, ora amados!
Se
der Goiás, será a redenção dos gordinhos brasileiros verem Walter levar o Esmeraldino
à Liberta, e testemunharíamos muitos desses fofinhos emocionados pelo Brasil
afora, com os olhos marejados e grudados na tela da TV, com sorvetes e
guloseimas à mão, empanturrando-se sem o menor peso na consciência...
Se
der Botafogo, então, será o caso de se usar as imagens do desacreditado triunfo
para produzir uma novela mexicana, tal o chororô que os devotos da Estrela
Solitária costumam produzir, com ou sem motivo, sendo imbatíveis no quesito.
Apesar de considerar improvável, este escriba torce pelo Glorioso, não só pelo
bem da auto-estima alvinegra, mas como uma singela forma de homenagear Nilton
Santos – A Enciclopédia. E se miraculosamente der o Leão da Barra, veremos toda
a torcida do Vitória chorando de alegria, enquanto a do Bahia fará o mesmo, mas
de tristeza.
E
todo esse caudaloso rio de lágrimas e emoções, para que mesmo, intrépido
torcedor? Para ser 3º ou 4º no campeonato!!! Pode isso, Arnaldo? Pode o cidadão
se contentar com uma desgraça dessas? Ainda mais sob o risco de pagar, à
prestação, um micão para a Macaca (que deve roubar a vaga ganhando a
Sulameriquinha)? O que significa dizer, diletos arquibaldos do novo milênio, que
quem se classificar na quarta colocação não terá qualquer razão para comemorar
de antemão; terá, isso sim, de esperar três dias após o término do certame
para, então, receber sua possível bênção... Ridículo, patético e catastrófico,
não? É a pegadinha do Brasileirão!
O
Flamengo, por exemplo, fez seu torcedor passar vergonha durante o ano
inteirinho, mas acabou conquistando a vaga no susto, por outros meios. O time é
fraco, mas a massa rubro-negra está rindo de orelha a orelha porque, afinal,
está entre os melhores da América!
Um
campeonato que mexe com as emoções de milhões, como é caso do Brasileiro, jamais
poderia se tornar tão desinteressante, a ponto de ser vendido como uma mera ponte
para Taça Libertadores, configurando-se numa distorção de valores que em nada
contribui para sua mística. Como se já não bastasse a falta que uma final faz à
memória do futebol e do torcedor, agora isso?... Tenha dó!
imagem: marcya reis