terça-feira, 3 de março de 2015

Borogodó Passando a Régua

O Vasco não brilhou, ao contrário do ilustre torcedor.

Esta nova seção (até agora, a única do blog) se propõe a pontuar o que de mais interessante aconteceu na última semana.

À exceção dos jogos do Flamengo, já não faço a menor questão de assistir a qualquer partida de futebol. O passionalismo juvenil de quem faltava à aula ou mesmo ao trabalho para ver um reles amistoso da Seleção Brasileira, no Tadjiquistão, já não existe mais – bem como o futebol ou a própria seleção, dizem.

Vez ou outra, porém, esbarro num canal qualquer e dou uma espiada no que anda fazendo um Barça ou um PSG da vida, esses times de grife do businessfootball. No último Sábado, por exemplo, bastaram alguns minutos assistindo ao toque de bola culé, contra o time do Granada, para me lembrar de como o Brasileirão, além de sonolento, possui um nível técnico digno da várzea do futebol mundial.

Neymar, que não vem atuando bem há uma meia-dúzia de jogos, não me parece tão à vontade. Foi (in)devidamente enquadrado para ser, no máximo, uma estrela de segunda grandeza do atual plantel azul-grená. Ele deveria parar de baixar a cabeça para Messi e partir para cima, do contrário, poderá reeditar a (até certo ponto) frustrante trajetória de Robinho.

Por lençóis piores que os do Moicano da Vila, e ocupando um papel ainda menos relevante em sua equipa, passa o ex-são-paulino Lucas. Quando se transferiu do Morumbi para o Parc des Princes, a Globo chegou a despachar seu setorista, Abel Neto, para cobrir os primeiros passos do então futuro melhor do mundo pela Cidade-Luz, além de produzir matérias especiais para o Esporte Espetacular e o Jornal Nacional – tava cheio de moral, o moleque! Duas temporadas depois, claudicante e diminuído pelo ego colossal de Ibrahimovic, é titular de ocasião, não fez falta na Copa do Mundo e nunca mais apareceu no comercial da Wolkswagen. Neymar que abra os olhos.

Na seara nacional, gostei de saber que a Fiel tem feito do Itaquerão um pesadelo para os times visitantes, sendo parcialmente responsável pelo excepcional desempenho alcançado pelo Timão, em seus redutos. Para isso, muito contribui a acústica extasiante do estádio, o que causa torpor ao adversário. A Nação Rubro-Negra, se quiser fazer frente aos manos e do Mengão, indestrutível em seu rincão, agora vai ter de se virar para ecoar seu famoso canto gregoriano sob as lonas cafonas que tanto descaracterizaram o Maracanã.

Já no clássico dos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro, entre Flamengo e Botafogo, nem a despedida do limitado, mas esforçado Leo Moura, ou a propaganda bizarra da camisa do Fogão chamaram tanta atenção quanto a tentativa de celeuma criada pela imprensa tupiniquim, que viu na divertida declaração pré-jogo – “Vou marcar gol e Marcelo Cirino, não!” - feita pelo esforçado, mas limitado botafoguense Bill, algo a ser alardeado como provocação e desrespeito, estimulando o tal “o pau vai comer em campo”. Que imprensa puritana. Parece que nunca ouviram falar de um Romário, de um Renato Gaúcho... Ô, gente inocente!

Por fim, aquele que considerei o ponto mais louvável do fim de semana, digno de aplausos coletivos: a presença de colorados e tricolores nas arquibancadas do Gigante da Beira-Rio. Das ocasiões a que pude assistir a um clássico, as mais emocionantes foram em companhia de torcedores adversários. Quanto menos segregação há, mais espaço para a paixão do torcedor aflorar. Saravah!


foto de joão sassi