Torcedores corintianos celebram: time de primeira grandeza. |
Ontem à noite a ansiedade era total e aqueles que, como eu,
queriam secar o Corinthians na final do Mundial, teriam ainda de esperar
algumas horas para tal. Era tentadora a ideia de se varar a noite enchendo a
cara para assistir à partida na maior loucura. Por outro lado, não é nem meu
time, pô... E vai que o Corinthians ganhe; ficar bêbado de graça não dá.
Ganhar a Liberta em cima do Boca já é mais do que suficiente
para acabar com o complexo de time doméstico da gambazada, mas ainda levar o Interclubes
em cima de time inglês já é demais. Bons tempos aqueles em que só o Mengo se gabava
de haver vencido os inventores do jogo; agora, até os bambis já se deram bem em
cima dos súditos da rainha.
Por mais que pareça, caro leitor, o problema não era somente
de recalque de torcedor, mas sim o que esse atual Corinthians representa para o
futebol brasileiro – problema sociológico, portanto. Direção truculenta, ainda
que “profissional” – leia-se, bem-sucedida em termos de marketing. Torcida
eufórica, algo beligerante demais para a manutenção dos bons costumes e do
respeito mútuo entre os adversários. Assumir o discurso do confronto a qualquer
custo, a qualquer hora, tira um pouco do brilho e da energia contagiante que
vem das arquibancadas alvinegras. Além de muita sujeira de bastidores
envolvendo dinheiro público.
Claro que estou me ocupando de justificar meu olho gordo,
pois estava torcendo contra. Só de saber que o Andrés Sanchez ficaria feliz, eu
ficava triste. Só de lembrar dos últimos contratos/concessões/benesses
recebidos pelo Timão, ficava puto. E torcia contra, ainda mais. Apesar do
Sócrates.
Em campo, o time de Parque São Jorge mostrava sua grandeza,
peleando de igual para igual contra o milhardário scratch londrino. Além disso, a Fiel dava espetáculo nas
arquibancadas, e isso deve ser reconhecido por todo amante do futebol. Se os
europeus curtissem mesmo esse título e marcassem presença, “dividindo o estádio”,
seria ainda mais lindo. O futebol precisa disso. O espetáculo está dentro de
campo, mas nas arquibancadas o que deve imperar é o Carnaval. Não se está
assistindo a uma opereta, como preza a FIFA.
Salvo as defesas de Cássio – O Intransponível, o que me
convenceu de que o Corinthians poderia merecer a taça – apesar do título brasileiro
roubado de 2005 - foi a letra mágica de Paulinho, esse fantástico menino que
parece ser também um fantástico jogador. Momento de craque, reencarnação do Doutor;
instante sublime. No que matou de letra, matou a marcação. Tabelou, armou e
deixou Danilo chutar para ver Guerrero concluir triunfalmente a jogada. Quando
vi o toque sutil de Paulinho, antevi o gol: - “Merece!” – afirmei. E assim o
Timão foi campeão.
Se não o fosse, a festa seria dos torcedores que queriam ver
os gambás passarem vexame. Ao invés disso, teremos de aceitar a alegria desses
fanáticos que estão por aí, dizendo ao mundo o que é isso aqui: é um pouquinho
mais que Brasil-iá-iá que canta e é feliz; isso aqui é Corinthians. The favela is here.
Então, em vez de curtir a dor-de-cotovelo e alimentar a
inveja, valorizemos a vitória desses milhões de corintianos que, apesar de cada
vez mais chatos e insuportáveis, trabalham, lutam e sofrem como o diabo. São
loucos, coitados. E merecem nosso perdão: glória, pois, ao Todo-Poderoso Timão.
foto: joão sassi