quinta-feira, 24 de maio de 2012

O Rei está Nu

A torcida do Fla faz cara de interrogação: "O que R10 tá pensando?"




A semana atual nos brindou com um inacreditável exemplo de como a soberba cega o homem, desconectando-o da realidade e, por fim, expondo-o ao ridículo.


Não me lembro de haver visto ou lido nada tão bizarro ligado ao mundo do futebol como o recente imbróglio em que se meteu o representante de Ronaldinho Gaúcho; seu irmão, o pop-star Assis.


Segundo a imprensa, o empresário teria se apossado de farto material esportivo oficial numa das boutiques do Flamengo, quando informou aos vendedores - reiteradas vezes, em alto e péssimo tom e deslavada prepotência - que não pagaria pelos produtos por conta de uma dívida do clube com Ronaldinho.

Não sei se é o caso de já se haver criado jurisprudência para uma situação ridícula como esta – simples furto? Roubo premeditado? Ataque escalafobético? Trata-se, de todo modo, de uma espécie de justiçamento algo lisérgico, resultando numa ação totalmente despropositada - constrangendo funcionários do estabelecimento que nada tem a ver com as pendências financeiras do clube -, mas que ensina um bocado sobre à psiqué do atual camisa 10 da Gávea.

Todos se perguntam o que se passa pela  cabeça de Ronaldinho. O que ele acha disso tudo?  Qual sua opinião? O que ele pensa?... Ele pensa? Mas o astro não gosta de microfones, nem de se pronunciar. Menospreza a comunicação e sua audiência. 

A perda traumática do pai, Seu João, obviamente abalou a estrutura familiar, que teve de se reorganizar, com Assis assumindo a gerência, por assim dizer. Irmão mais velho, era então um promissor meio-campo do Grêmio, e tinha humildade e bom senso para reconhecer que o mais novo, àquela época apenas um pivete dentuço de dez anos, seria um cracaço. E olha que Assis chegou a ser cotado para ser titular da seleção brasileira na Copa da Itália, em 90. Apesar de não ser uma joia da bola, tinha algum talento e carisma (no fim das contas, quem ficou com a 10 foi Silas, apenas banco naquela campanha lazarenta)


A tragédia familiar encurtou sua carreira e agora era no caçula que as fichas seriam depositadas - Assis como tutor. Se ele estava apto ou não a exercer tal função, isso é algo discutível, mas o que importa é que, sob sua batuta, o pupilo Ronaldinho chegou a ser o cara que mais jogou bola em todo o planeta, entre 2002 e 2006, tornando-se quase uma lenda do esporte - quase. No meio daquele ano, contudo, o semi-deus teve uma espécie de epifania, só que às avessas... 

O que aconteceu da Copa da Alemanha para cá - quando mesmo estando no auge foi pífio, sendo lembrado por agarrar moças na grama e por pisadas na bola, no gramado - é um mistério que nem o Mestre Tostão conseguiu desvelar. E Ronaldinho Gaúcho deixou o patamar quase divinal em que se encontrava para vir pastar cá embaixo, junto à ralé, refestelando-se na luxúria e na mesquinhez de um mortal qualquer. Simplesmente deu as costas ao Olimpo, cujas portas se encontravam já abertas, deixando os deuses da bola a ver brancas nuvens...

Após o fiasco em Milão, onde não se firmou como titular em tempo algum (além de ter passado muito frio), o ex-showman teve uma excelente oportunidade para reencontrar seu rumo sob a bênção da maior torcida do Brasil, no calor tropical-flor do Rio de Janeiro, sucedendo Zico como a Nova Realeza da Gávea. Com o apoio da massa rubro-negra, o Gaúcho poderia reinar num Flamengo enfim poderoso, porque renovado em sua autoestima e em suas ambições. Poderia encerrar a carreira nos píncaros da felicidade, logo após conquistar a Copa de 2014 e se consagrar de vez com a Seleção (novamente) Canarinho, numa constelação com ele, Ganso, Lucas, Neymar e Damião!... Mas não.

O que se viu e se vê no decadente craque, desde a estreia, há quase um ano e meio, é um caso de total falta de noção do que se passa à sua volta. Não tem a noção do que representa o Flamengo, ou mesmo noção da grandeza dessa imensa nação que veste vermelho-e-preto, que come, respira e dorme Flamengo. Prefere ficar no seu silêncio mascarado, confundindo o torcedor que o idolatrava, deixando no ar a desinformação e a indiferença.

Sem contar seus bacanais particulares, incompatíveis com qualquer rotina profissional de alta performance, ou aquele arzinho de quem vai resolver a parada na hora que quiser, mas que não resolve nunca; um misto de farsante e cafajeste. 


A exemplo do irmão non sense e de seu patético pastelão na loja do Mengão, o atual camisa 10 entra em campo, encena, faz umas firulas e - pontue-se - não resolve nunca, deixando a torcida cada vez mais indignada e descontente. 


Vive de passado, quando do tempo do rei. E como na Idade Média, os súditos querem sua cabeça servida numa bandeja. O rei está nu, e também o conselheiro real. Mas Ronaldinho, exatamente como este, não se dá conta do ridículo; gente sem noção. 


foto de João Sassi
Maracanã/RJ - 06/12/09

14 comentários:

  1. Na verdade, Ronaldinho não merece texto tão brilhante.

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    1. O comentário é meu, Juca Kfouri.

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    2. ...e eu, caro Juca, não sei se sou merecedor de menção tão dignificante!

      Um abraço deste estreante,

      João Sassi (D.T.)

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  2. Ué, cadê o comentário que postei ontem aqui e que até há pouco aparecia sozinho na caixinha? Foi deletado?

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    1. Márcio, logo após responder ao seu comentário, o danado simplesmente desapareceu, de modo que aventei à possibilidade de você mesmo tê-lo feito. Como estava falando ao vento, deletei o meu também, sacou?

      Mas não se exaspere; ambos estão logo abaixo!


      "Vamos ver se serei eu a estrear esta caixinha de comentários! Prestígio para mim e para você também, ora bolas. Parabéns pela iniciativa do blog - não preciso dizer que o tema me interessa e que serei presença constante. No mais, sendo otimista, Ronaldinho perde também a chance de igualar Pelé como o jogador que foi campeão mundial de seleções com o maior intervalo de tempo (12 anos). Usando um chavão já velho, mas verdadeiro, é um ex-jogador em atividade ..."

      E minha resposta: "Muito grato pelo prestigiada temprana, Márcio! Agradeço a deferência.

      Quanto ao tal recorde ao qual você se refere, ele certamente é a menor das glórias abdicadas pelo Ronaldinho... ".

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  3. Que delícia de texto, John! O futebol nunca foi um assunto que me despertou interesse por mais de 2,3 minutos. Não mais! Seu texto de estreia anuncia novos ventos! Posso sentir nascer a primeira borogodoense no pedaço! Estarei por aqui. =) Beijos da prima. Marília

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    1. Que massa, Marília! Torço que tais ventos tragam emoções refrescadas sobre o mundo da bola - LUDOPEDHYA.

      O futebol não é somente um esporte; é algo presente em nosso cotidiano e que afeta nosso dia-dia, mesmo o daqueles aparentemente indiferentes à sua existência.

      Esqueça o lugar comum, pois aqui a bola rola em todas as direções. Neste campo não há lugar para latifundiários, pois nossos interesses são tão múltiplos como coletivos.

      Um beijo deste D.T.

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  4. Caro xará,
    Desculpe a demora, não tenho tempo, ainda mais que vou viajar no fim da semana e tenho uma porção de coisas a providenciar. Seu texto continua bom, não tenho nada a criticar. Mas de fato não tenho condição, diante de um monte de coisas a resolver, de fazer análise dele. Aliás, nem sei fazer isso direito. Vá em frente, muito sucesso, um abraço de
    João Ubaldo

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    1. Tá desculpado, João! Baiano é assim; demora mesmo, mas quando faz, faz bem feito!

      Sem palavras para agradecer o apoio moral...

      Abraço forte,

      El D.T, seu xará

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    1. Muito grato pela visita, Mengão! Seja sempre bem vindo e traga a massa para a discussão(ainda que o espaço seja dedicado ao futebol, e não somente ao nosso querido rubro-negro)!

      Valeu!

      El D.T.

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  6. João,

    PARABÉNS!

    Disse tudo, nada mais há a falar sobre tão indigesta persoa.

    Resta saber se os que mandam aprenderam alguma coisa nessa história podre.

    Saudaç~]oes.

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    1. A questão é por aí: quem é que manda no Flamengo?

      Seja bem-vindo ao Borogodó F.C.!

      El D.T.

      Ps: indigestão por indigestão, vamos ver como é que o Galo se vira para salvar esse caldo!

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    2. Provavelmente vai virar canja.

      Mas o canalha vai jogar muito contra nós. FATO!

      Saudações

      @Papo_de_Cozinha

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