terça-feira, 15 de abril de 2014

Roberto Dinamite e a Síndrome de Superman

Roubado é mais gostoso?
A pretensa decisão da diretoria do Vasco da Gama de solicitar a anulação da partida final contra o Flamengo é de um ridículo atroz que só não é maior por falta de espaço em São Januário.  Seus dirigentes entendem que o gol rubro-negro foi fruto de roubo, sendo, portanto, ilegítimo. Clamam por justiça! Querem a cabeça do juiz, do goleiro e de quem mais estiver em conluio com tais meliantes!

É inacreditável! Esse pessoal não teve infância? Não sabe levar na boa-fé um fato mais que inerente ao esporte? O erro está implícito à disputa desportiva, uma vez que os embates estão submetidos ao julgamento potencialmente falho do ser humano. Ele não está previsto em qualquer regra, mas como um tempero que cai acidentalmente na panela, criando uma combinação espetacular, faz parte da cosmologia do esporte, permeando todo seu processo evolutivo e demais desdobramentos.

Cansados de tomar na tarraqueta, os diretores  vascaínos insistem na exposição e na humilhação públicas do próprio time, incumbência antes exercida pelos botafoguenses. Por querer voltar o tempo e refazer os acontecimentos da vida, Mr. Bob Dinamite, quem muito admirei quando em atividade, deveria ganhar o troféu "Síndrome de Superman", concedido ao cartola mais original do metiê. Como diabos ninguém teve antes tão reluzente ideia? Será que dá pra todo mundo entrar nessa fita aí, doido? É só ir lá com o adevogado, pá-pum e pronto, desembaçou? Tudo zerado? Convoca-se uma nova Final, distribui-se novos ingressos aos cambistas e tá tudo firmeza?... Mas, diz aí; tem jurisprudença, mano?

   - Poxa, Roberto, não tem! Passa outra hora, com outra roupa, meu filho, porque quem sabe não sobra alguma numa próxima oportunidade, quando vocês poderão fazer como o Flu e virar a mesa sempre que for conveniente?

O “delito flamengo-arbitral-global” teria sido admitido e confessado pelo arqueiro rubro-negro Felipe, baiano descarado, da mesma laia de Edílson e Vampeta, quando ele fez troça sobre os eternos vice-campeões com o provocativo chavão “roubado é mais gostoso”. Foi o suficiente para que o Gigante da Colina se retasse, apelando às tais providências jurídicas cabíveis mais descabidas à disposição.

Na mesma toada, nas redes sociais pululam acusações ao caráter do goleiro flamenguista. Percebo tempos tão hipócritas que uma clara provocação se torna uma prova da essência supostamente desvirtuada do povo brasileiro. Ou não se percebe que, em sua provocação explícita, ele enaltece o rival ao admitir, implicitamente, que ganhar do Vasco é tão importante que faria qualquer coisa para isso?  Ah, mas tenho certeza de que o probo leitor não coaduna com gente dessa estirpe, pois sim? Senão, vejamos...

 O brasileiro tem orgulho do sucesso internacional da seleção brasileira. É das poucas coisas que suplanta nosso atávico complexo de vira-latas.  Ao contrário da realidade social, no quesito futebol a nossa auto-imagem adquiriu autoridade moral sambando com a bola nos pés, assobiando e chupando cana ao mesmo tempo. Conquistamos cinco Copas do Mundo legítima e inquestionavelmente, com direito a Copa nas Américas, nas Oropa e até no Oriente!

Se porventura, porém, uma das estrelas bordadas na camisa canarinho, houvesse sido obtida, digamos, sob o tacão de uma ditadura militar, com favorecimentos mil, além de uma tanto sub-reptícia como elástica vitória sobre (des)determinado oponente, é certo que nos sentiríamos um pouco desconfortáveis por conta do olhar de soslaio que o mundo inteiro dispensaria a tal conquista (mais ou menos como a torcida do Sport se sente em relação ao “título” de campeão brasileiro de 87). Pode até constar nos anais, mas na cabeça da geral o papo é outro.

Apesar desta verve honesta e de sermos todos tementes a Deus, o brasileiro também faz macumba e adora jogar no bicho. São ações constitutivas da nossa cultura, como também o é a malandragem, tão bem corroborada por Túlio Maravilha – o ex-imortal – com sua providencial ajeitada no braço e conseguinte golaço sobre os hermanos, pelas semis da Copa América-95. Não vi um único brasileiro, por mais Caxias e ilibado que fosse, lamentar pelos jogadores argentinos estarem à beira de um ataque cardíaco, gesticulando, desesperados, para que o juiz anulasse o gol. Naquele momento, nosso jeitinho foi elogiado de Norte a Sul do país.

Será a prova cabal de nosso macunaismo? Não creio. É certo que se fosse contra a Venezuela, nos sentiríamos envergonhados por passar à final “na mão grande”. Sendo, porém, contra a Argentina, ter sido como foi se revelou um motivo a mais de regozijo! E não adianta falar que não foi porque foi!

Justiça, merecimento, mérito... São palavras tão bonitas, não obstante tão deslocadas do mundo da bola... Em 2007, por exemplo, estive presente ao Maracanã quando o Botafogo foi garfado e o Flamengo foi campeão. À ocasião, Dodô foi expulso por concluir a gol um ataque mal anulado pela arbitragem, impedindo a vitória alvinegra nos derradeiros minutos. Saí do estádio eufórico, mas aquela “injustiça” me incomodou muito porque, de fato, o Botafogo era muito mais time e não merecia perder. Deu até pena vê-los chorando na TV.


Agora, me pergunta se eu sinto o mesmo em relação ao jogo de Domingo? Como disse o zagueiro Wallace, só lamento pelo gol não ter saído aos 48!... Hahaha! Chupa, Vasco!