quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O Caso Lionel Messi: quem ama o feio, bonito lhe parece.


Fio Maravilha: - "Beleza não se põe à mesa, valeu, chefia?".

Vou abrir o jogo: eu não gosto do estilo do Messi.

Se atento for, o nobre aficionado há de perceber que é apenas uma questão de gosto, e nada mais. Não contesto sua técnica, tampouco sua genialidade, mas viro a cara para seu futebol. Para se ter uma idéia, a última partida do Barça a que assisti integralmente foi a constrangedora tarracada em cima do Peixe; antes disso, só com Ronaldinho Gaúcho em campo eu tinha saco.

Para mim, não está em pauta a (inigualável) eficiência do argentino, mas o que eu quero do jogo. Podem me tachar de reaça e dizer que não acompanhei a evolução do esporte, mas que o futebol dele se parece com o futebol de vídeo-game, isso é inegável. Há apuro no desenlace das jogadas, e até improviso, mas quase nenhuma espontaneidade. O passe é teso; o lançamento é teso; o chute a gol é teso. A perna parece ter uma amplitude mínima, movimentando-se por uma diminuta órbita, ainda que imprevisível e letal. Até a comemoração de Messi é tesa. Será que tem a ver com sua apática personalidade?

Fora de campo, Messi é comparável a Pelé; são dois sujeitos sem sal nenhum. Maradona, nesse quesito, passeia, deleitando-nos ao manifestar sua alma livre, mesmo tendo aprisionado o pensamento ao pó. O refúgio que El 10 buscou no delírio químico tem raízes na consciência do mundo hipócrita e perverso em que vive, ao contrário dos outros dois, que parecem conviver em plena harmonia com o status quo e com o stablishment. Até que ponto isso se reflete em campo, não sei (há que se inventar uma escala que meça a subjetividade), mas o fato é que a rebeldia do futebol de Maradona é visivelmente mais humana, e indiscutivelmente mais bela.

Maradona se transformou em revolucionário, Pelé em fantoche e Messi num especialista. Ele é bom no que faz e pronto. É fruto do tecnicismo da contemporaneidade. É produto da mentalidade segundo a qual a arte se torna desnecessária, quase acidental. Não vejo espetáculo nos recordes impressionantes do craque, mas apenas barreiras sendo transpostas, burocraticamente, sem tesão ou prazer. Messi faz chover em campo, mas fico algo frustrado quando o vejo jogar, pois se tem a impressão de que seu arco-íris nunca se completa. Não há encanto em sua magia.

É tudo muito preciso, tudo muito perfeito – o rápido deslocamento, o pique ligeiro, o leve toque na bola, o lençolzinho no goleiro – mas a perna permanece ali, imperceptível, como um ferrão que apenas executa o inimigo e se recolhe, pronto para o próximo bote. Tem forma humana, embora não aja como tal; La Pulga que me desculpe, mas beleza é fundamental.

foto: joão sassi

2 comentários:

  1. No meu entender, Messi, é um jogador completo, explico:gênio com a bola nos pés, joga para o time e, o principal, não é "perna".

    Acho que para o jogador ser bom, precisa ser bom também fora de campo, e o Messi, é o "cara", dentro e fora dos gramados.

    Deixo minha homenagem: http://globotv.globo.com/rede-globo/globo-esporte/v/chico-o-torcedor-ironiza-contratacoes-dos-clubes-de-futebol-do-rio-de-janeiro/2325237/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grande Vitor! Veja bem: acho Messi genial, mas não me encanto com o toque dele; acho travado e, de maneira geral, feio de se ver. No meu entender, o Ganso seria um antípoda perfeito: enquanto ataca com um solo de piano harmonioso, Messi causa estragos com um trompete arrebatador. Ambos tem seu valor, mas prefiro a classe de um ao bebop do outro.

      Abraço!

      O Maltrapa

      Excluir