sábado, 19 de novembro de 2016

Perdoe, Dr. Roberto... (mas nosso Flamengo não será campeão)

Esse rubro-negrinho prefere bater uma bola a acompanhar os jogos do Flamengo pela TV

    Não me lembro de haver assistido a qualquer coisa tão maçante em muitas décadas de futebol. Os 40’ que desperdicei defronte a TV foram tão desagradáveis quanto o slogan que alardeia o “cheirinho de hepta”. Difícil crer que as pessoas paguem o PREMIÈRE para ver isso.

    Para início de análise, além de um corte de cabelo padronizado e de propalada fé do Senhor Jesus Cristinho, o que o time do Flamengo tem para mostrar? Pose de estátua? Ou total falta de capacidade para ser campeão? O Flamengo não merecer vencer.

    Quando liguei a televisão, o oriundi Leo Batista já estava apresentando os melhores momentos do 1º tempo que, ressalte-se, pareceram-me muito melhores ao último colocado do Brasileirão do que à equipe que almeja a consagração. Porque se o objetivo do time era entrar em campo com a faca entre os dentes e passar o rodo geral, então eu não entendi nada quando nosso técnico gritava, insistentemente, “paciência!” aos jogadores que deixavam o vestiário, rumo ao 2º tempo. Paciência?! Só se for ao torcedor, né, Zé? Pois quem perdeu dois ou três gols feitos foi o América, enquanto o nosso foi na cagada, né? Assim como foi cagada o atacante americano dar uma ombrada, já na segunda etapa, tornando possível ao nosso engomado goal-keeper praticar uma defesa decerto impossível, caso cabeçada fosse.

    Falando em segunda etapa, avanti, se é para isso que aqui estamos! Que coisa medonha... A começar pelos uniformes. O do Coelho, cuja mistura de cores agrada no original, agora foi transformado em penteadeira de puta, sendo que na penteadeira você dá uma arrumada, mas a camisa, só queimando e se esquecendo da fórmula para nunca mais repetir. Quanto ao do Mengo, é verdadeiramente astucioso como conseguiram embagulhar o clássico manto do Mundial de 81! Pô, Adidas! Pô, diretoria! Tanto o design modernoso-academia não combina com o traço rubro-negro, como um logotipo azul e laranja jamais combinará com qualquer camisa do Fla, em qualquer época – quiçá com a “Tabajara”. O patrocinador fica tão em evidência com suas letras garrafais e pesadas que toda vez que o time entra em campo eu me confundo, achando que é o time da CAIXA...

    Voltando ao suplício, e me desculpem o tom modorrento, mas que desagradável... Enquanto os mineiros atacavam com alguma dignidade e honra, dado o rebaixamento, os cariocas mandavam ver um pão de queijo e contemplavam as vaquinhas pastando nas montanhas verdejantes, como num copo de requeijão. Enquanto o inconfiável PC se esfalfava para evitar mais uma carga do esquadrão deca campeão, cá atrás, a comissão técnica a tudo assistia, tomando mais uma xícara de café passado na hora.

    Entre um naco de queijo de minas e outro, entrou o Gaborel, cabra que eu gosto muito (apesar das evidentes limitações), e que deu um balaço que parece que vai ser gol mesmo depois de ver no replay que não foi; merecia. Digo mais: se a bola entrasse, com a beleza e a personalidade com que desferiu o potente chute de canhota, quem sabe o baiano caísse nas nossas graças e finalmente desabrochasse. Foi o único fato digno de registro.

    Como se não bastasse (o Golpe, a PEC55, o reacionarismo galopante, etc), o enfadonho enredo da noite da última quarta-feira (16) ainda contava com a narração quadradinha do bom funcionário Luiz Roberto, quem não deixava o sonolento telespectador se esquecer de “toda a emoção em jogo na encarniçada disputa pelo G-3”... Uáááááááááá, que sono! Cá do sofá, para piorar, não se podia nem mesmo deixar-se contagiar pela empolgação da torcida presente ao estádio que, segundo o Luiz, “cantava e pulava sem parar, fazendo uma festa no Mineirão!”... Sério? Difícil acreditar naquilo que não se pode ver, já que a transmissão global, ao privilegiar os patrocinadores, a qualquer custo e em detrimento das manifestações populares de cunho cultural, político ou clubístico, não se ocupa mais de promover pormenores tais, como nos tempos de outrora, com seus 100 mil torcedores, chuva de papel higiênico e picado, charangas, batuques e bandeiras mil. A despeito da quantidade de câmeras altamente tecnológicas espalhadas por todo o ambiente, os telespectadores só ficam sabendo da tal “festa no Mineirão” por conta dos insistentes alertas do narrador: - Canta feliz a torcida flamenguista nas arquibancadas!... – emendava.

    Se ele, sempre educadíssimo,  não nos faz o favor de avisar, jamais saberíamos que alguém cantarolava por aquelas constantemente vazias cadeiras da Arena Mineirão, já que desde que a Globo ‘pegou pânico’ (SIC) de tudo o que é espontâneo, suas transmissões esportivas passaram a ser ambientadas numa câmara mortuária. De nada lhe servem microfones ultrassensíveis ou engenhocas de ponta, pois a emissora ranzinza e quatrocentona opta, há tempos, por suprimir da vida dos telespectadores qualquer energia contagiante ou expressões genuínas de alegria vindas daquela turba popularesca que subsiste em nossas (mau) padronizadas arenas - justamente as manifestações que historicamente (e até há pouco) resignificaram o jogo e a forma de se torcer, criando passarelas imaginárias, avenidas e carnavais em meio às gerais. Foi tudo substituído por um som abafado, almofadado. Da torcida, um leve alarido. E o Luiz Roberto que, contido, esfregando suas mãozinhas, deixa escapar um insincero sorriso folgazão e sintetiza a experiência pretensamente coletiva: - Tudo isso é um grande barato!...

    Do que será que ele está falando? Do preço dos ingressos (aproveitando o trocadilho) é que não é. Da qualidade do jogo, muito menos. Será da tal disputa pelo G-3 (ou G-4, G-7 ou G-16 – quem não cair, tá na Liberta!)? Ou das es-pe-ta-cu-la-res intromissões publicitárias que agora fazem a tela diminuir, obrigando-nos, como gados, a ver o que eles querem que vejamos? (Parabéns ao gênio que pensou nisso.) Não sei; são tantas coisas “bacanas e legais” (só para citar o Luiz) que a gente se perde nesse verdadeiro parque de diversões das emoções, né, Maestro Júnior?... – Hã?!...

    Por fim, voltando à vaca fria, i.e., ao time do Flamengo que só nos presenteia com leite azedo, é necessário finalizar dizendo que, tal como agora, já iniciamos muito mal para finalizarmos muito bem alguns brasileirões (em especial, os de 87, 92 e 09). Destoando dessa tríade vitoriosa e descontando o fato de não termos um Zico, um Júnior ou um Pet, o mal é que nessa escalada rumo ao caneco não tenha rolado uma arrancada final espetaculêndida, daquelas de fazer com que geral sinta calafrios ao topar com o Mengão-deixou-chegar-fudeu. Borrariam as calças só de sentir o cheiro da turma da Gávea, mas com um futebol fedorento desses...

    O texto era só para esculachar o futebol do Mengão, mas acabou sobrando para a Globo e para o vistoso Luiz. Foi mal, aê, Dr. Roberto, mas nesse ano nosso Flamengo não merece (nem vai) ser campeão. Fedeu!

PS: claro que se logo mais, no New Maraca, ganhar dos coxa, e os porco e os peixe perderem, torcerei como louco e acreditarei como nunca! Ó, meu Mengão, eu gosto de você...

imagem: joão sassi


2 comentários:

  1. Já diz o ditado, que "pau que nasce torto morre torto...".
    Então, coitadinho do rubro-negrinho aí... O pai fez questão de entortá-lo após vir à luz. Se eu fosse esse pai, pensaria melhor para não trazer mais um sofredor nessa vida. Ainda há esperança!

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    1. E foi 'pensando melhor' que você tornou seu filho um tricolor das Laranjeiras? E o meu é que é sofredor? Sei... Grande abraço, tricoleta!

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