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Comunhão entre Céu, Terra e Povo - algo que não se constrói com dinheiro |
Se acaso perguntado, o nostálgico
leitor, por estrangeiros e etês, sobre a existência de um templo sagrado em
solo brasileiro, o que lhos responderia?
Penso que católicos olhariam para
a cidade de Aparecida e sua nada franciscana Basílica de Nossa Senhora, no que
muitos dos evangélicos apontariam para o universalmente cafona Templo de $alomão,
enquanto que meus parcos leitores (todos ateus ou macumbeiros, espero) não
pestanejariam em cravar o Maraca, vulgo Mário Filho – um templo que já não
existe mais. Quanto aos incautos, inocentes e bobos ilustrados, citariam
orgulhosamente o New Maracana Arena
Odebrecht Cabral, etc. e tal.
São seres que nasceram numa
caverna chamada século XXI, ou nela se enfiaram, por mediocridade, e que
carecem de referência sobre o ethos constitutivo do futebol brasileiro e de
suas características culturais mais simbólicas. Babam pela influência gringa –
em especial pela norte-americana, símbolo de ‘eficiência e espetáculo’ – e reverenciam
o Super Bowl, como se toda lógica humana se resumisse cifrões, pirotecnia e
ritmo pop. Por total falta de parâmetros, jamais saberão o quão extasiante era
sair do túnel do antigo Maracanã para efetivamente sentir-se no interior de um
templo sagrado, em dia de Fla-Flu. Não havia qualquer necessidade de selfies para dizer ao mundo, “olhem,
estou aqui, estou aqui”, pelo simples ato de estar e ostentar, mas comunhão e
rivalidade saudável entre os presentes, em total sinergia com o evento, e não
com o telão.
Aqueles que destruíram esse templo
– mentes colonizadas, macaquinhos da modernidade – falam em negócios, lucros e
outras merdas que o capitalismo impõe como metas sociais, em detrimento da
tradição, do respeito e da empatia. O que importa é o que dá para tirar desse business; mesmo que em forma de propina;
mesmo que ignorando pareceres enfáticos de autoridades patrimoniais; mesmo desonrando
e enxovalhando o nome da própria família; mesmo colocando o Brasil de quatro
para a FIFA enrabar – vale tudo.
Foi, pois, nesse clima de suruba
de valores imorais e materiais, além de muita sodomia forçada, que nasceu o New Maracana. Os arquitetos dessa
bizarra maiêutica gozaram à larga e cruzaram oceanos para limpar a porra toda
com serviette de table française, enquanto
botavam pra éfe em cima do povo. Não há, aliás, regra mais universal e
atemporal: o povo sempre se fode. Sem ele, o estádio perdeu sua alma, e com sua
arquitetura interna em desacordo com história do templo destruído, perdeu a
aura; virou arena. Perdeu a mítica. Passou a calar vozes, a censurar
ideologias, a reprimir a alegria, as bandeiras e as percussões, rojões,
emoções. Proibiu o carnaval que identificava nossas arquibancadas, e também o
gramado, impedindo e penalizando o jogador que “ouse” comemorar um gol junto ao
seu torcedor: - Se você for (pra galera), vai tomar amarelo! – alertou Réver a
Guerrero, após El Depredador fazer vendaval na defesa para estufar as redes do
Furacão, no embate da última quarta-feira.
Do sofá, sou reportado sobre o
jogo. De quando em nunca, a transmissão (que prima por efeitos especiais em
detrimento do espetáculo real) permite ao telespectador uns poucos segundos de
vislumbre da atmosfera da torcida rubro-negra. Encalacrados como bovinos em
suas baias, pouco podem fazer, a não ser coreografia com as mãozinhas ou
simpáticos mosaicos, sem o improviso e a espontaneidade que marcaram toda a
trajetória do antigo colosso brasileiro. Na tela, a magnética aparece como um
borrão digital, cheia de movimentos repetitivos e sem qualquer livre-arbítrio.
Nosso templo se transformou numa
igreja chata e ultrapassada, cujos valores, crenças e dogmas caminham em
direção, sentido e sentimentos diametralmente opostos àquilo que querem seus
fiéis seguidores. Do pó viemos, ao pó voltaremos.
Comentário 1 lá no gmail. Depois tem mais.
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