segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Sonolentão 2015 (não bastassem os 7x1...)

Vilipendiado, aviltado e desrespeitado, o torcedor brasileiro sente sono.
Thank’s God, it’s over! Mais um campeonato brasileiro para ser esquecido! - marca registrada da “Era” dos pontos corridos...

- “Uma das vantagens em ser campeão com antecedência é poder comemorar por mais tempo!...”, inovou o apresentador do Globo Esporte desta 2ª feira, ao exibir imagens da torcida cruzeirense, no Mineirão, celebrando um bicampeonato conquistado há tanto tempo que os celestinos nem se lembram mais.

Já no ótimo Redação SPORTV, o jornalista Carlos Cereto mencionou que o gol mais festejado pela torcida palmeirense, neste ano - ano do centenário! –, foi o do Santos, no triunfo sobre o rebaixado Vitória, na derradeira rodada do campeonato, que livrou de vez o Verdão da humilhante degola. Pois não foi outra que não esta a maior atração da última rodada: a agonia dos únicos três clubes que ainda poderiam cair, pois nem disputa pelo “G4” havia mais. O que poderia ser uma data inesquecível, que mobilizasse todo o Brasil, transformou-se, portanto, num dia qualquer; num domingo desperdiçado, desses que se passa assistindo ao Faustão e comendo miojo.

As expectativas para a “rodada decisiva” eram tão nulas que o principal diário de notícias da capital do País do Futebol (o Correio Braziliense) não trazia uma única linha especializada que lembrasse ao leitor este mais que melancólico fim do Brasileirão2014. Nenhum colunista se prestou a fazer qualquer análise, tão desinteressante se mostrou o produto servido ao torcedor brasileiro. E pensar que “profissionalismo” é a palavra da moda!...

Não bastasse a FIFA nos currar durante a Copa (e depois a Alemanha nos violentar); não bastasse o governo brasileiro construir estádios superfaturados (e inacabados) com dinheiro público e doá-los a empresários; não bastasse o ingresso a preços escorchantes cobrados por estes mesmos empresários; não bastassem as proibições sem fim dentro das novas “arenas”; não bastasse a elitização e a desfiguração total do perfil do torcedor brasileiro; não bastasse a destruição do Maracanã; não bastasse a ausência de um camisa 10 de qualidade atuando por aqui; não bastasse uma camisa oficial custar, em média, 200 reais; não bastasse o excesso insano de propagandas nas camisas oficiais; não bastasse o marketing selvagem, colorido e nada tradicional nas camisas oficiais; não bastassem os clássicos de torcida única; não bastasse a volta do Eurico Miranda ao Vasco; não bastasse o time de maior torcida no país estar a mais de 140 rodadas longe do “G4” e, por fim; não bastasse o Pelé fazer as vezes de garoto-propaganda (das Olimpíadas no Rio) até quando está na unidade de terapia semi-intensiva (!), ainda temos de testemunhar passivamente como o campeonato de maior tradição e representatividade no Brasil vai se tornando o mais desinteressante e entediante dos espetáculos? Por que tanto penar, ó, Deus? Não basta termos um Dunga à frente da Seleça? Um Marin de cabelo acaju? Um Ricardo Teixeira rindo em Miami? E ainda isso?

Por outro lado, sorte a minha ter, nesse pensar, a companhia de gente da estirpe de um Xico Sá ou de um Peninha que, ontem, no excelente Extraordinários – de longe, o melhor programa esportivo da TV brasileira (aberta e fechada) – opinaram contra a escabrosidade dos pontos corridos. Como afirmou o historiador gremista, “a Final é uma entidade!”, uma data esportiva que a diferencia não somente das demais datas esportivas, senão também de todos os dias do ano. As finais marcam nossa vida. Criam registros indeléveis e produzem emoções que se refletem na imaterialidade de um não-lugar, porque em toda a cidade (todo o País!), resultando numa sinergia irreplicável em condições normais de temperatura e pressão – e os caras querem tirar isso da gente, como se nos fizessem um favor por imitar o futebol europeu com sua justiça e hábitos inexoráveis, é mole?

Pergunte, portanto, o dadivoso leitor a qualquer torcedor medianamente conectado ao mundo da bola, qual foi o grande dia do futebol tupiniquim, no corrente ano, e terás como resposta inescapável a primeira partida da Final mineira da Copa do Brasil, entre o Galo e a Raposa. Nenhuma outra peleja despertou tamanho interesse e expectativa. Nenhuma partida foi tão aguardada, acompanhada ou celebrada por tantos torcedores, de tantas agremiações diferentes, pais afora – algo deveras sintomático.

É inegável que o sistema de pontos corridos gere, além de tédio, tal gama de deturpações, que não seria precipitado pensarmos na implementação imediata de um novo modelo que atenda às demandas culturais do torcedor brasileiro, principalmente no tocante aos quesitos “emoção e imprevisibilidade”. Que os mentecaptos da CBF deixem a bola rolar solta, sem o cabresto de fórmulas tão claras quanto chatas. E que tenham os velhacos da cartolagem clarividência e criatividade, pois, do contrário, haja ânimo para suportar o Sonolentão 2015...


foto: joão sassi