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Thank’s God, it’s over! Mais um
campeonato brasileiro para ser esquecido! - marca registrada da “Era” dos
pontos corridos...
- “Uma das vantagens em ser
campeão com antecedência é poder comemorar por mais tempo!...”, inovou o
apresentador do Globo Esporte desta
2ª feira, ao exibir imagens da torcida cruzeirense, no Mineirão, celebrando um
bicampeonato conquistado há tanto tempo que os celestinos nem se lembram mais.
Já no ótimo Redação SPORTV, o jornalista Carlos Cereto mencionou que o gol mais festejado
pela torcida palmeirense, neste ano - ano do centenário! –, foi o do Santos, no
triunfo sobre o rebaixado Vitória, na derradeira rodada do campeonato, que
livrou de vez o Verdão da humilhante degola. Pois não foi outra que não esta a
maior atração da última rodada: a agonia dos únicos três clubes que ainda poderiam
cair, pois nem disputa pelo “G4” havia mais. O que poderia ser uma data
inesquecível, que mobilizasse todo o Brasil, transformou-se, portanto, num dia
qualquer; num domingo desperdiçado, desses que se passa assistindo ao Faustão e
comendo miojo.
As expectativas para a “rodada
decisiva” eram tão nulas que o principal diário de notícias da capital do País
do Futebol (o Correio Braziliense) não trazia uma única linha especializada que
lembrasse ao leitor este mais que melancólico fim do Brasileirão2014. Nenhum
colunista se prestou a fazer qualquer análise, tão desinteressante se mostrou o
produto servido ao torcedor brasileiro. E pensar que “profissionalismo” é a
palavra da moda!...
Não bastasse a FIFA nos currar
durante a Copa (e depois a Alemanha nos violentar); não bastasse o governo brasileiro
construir estádios superfaturados (e inacabados) com dinheiro público e doá-los
a empresários; não bastasse o ingresso a preços escorchantes cobrados por estes
mesmos empresários; não bastassem as proibições sem fim dentro das novas
“arenas”; não bastasse a elitização e a desfiguração total do perfil do torcedor
brasileiro; não bastasse a destruição do Maracanã; não bastasse a ausência de
um camisa 10 de qualidade atuando por aqui; não bastasse uma camisa oficial
custar, em média, 200 reais; não bastasse o excesso insano de propagandas nas
camisas oficiais; não bastasse o marketing selvagem, colorido e nada
tradicional nas camisas oficiais; não bastassem os clássicos de torcida única; não
bastasse a volta do Eurico Miranda ao Vasco; não bastasse o time de maior
torcida no país estar a mais de 140 rodadas longe do “G4” e, por fim; não
bastasse o Pelé fazer as vezes de garoto-propaganda (das Olimpíadas no Rio) até
quando está na unidade de terapia semi-intensiva (!), ainda temos de
testemunhar passivamente como o campeonato de maior tradição e
representatividade no Brasil vai se tornando o mais desinteressante e
entediante dos espetáculos? Por que tanto penar, ó, Deus? Não basta termos um
Dunga à frente da Seleça? Um Marin de cabelo acaju? Um Ricardo Teixeira rindo
em Miami? E ainda isso?
Por outro lado, sorte a minha
ter, nesse pensar, a companhia de gente da estirpe de um Xico Sá ou de um
Peninha que, ontem, no excelente Extraordinários
– de longe, o melhor programa esportivo da TV brasileira (aberta e fechada) –
opinaram contra a escabrosidade dos pontos corridos. Como afirmou o historiador
gremista, “a Final é uma entidade!”, uma data esportiva que a diferencia não
somente das demais datas esportivas, senão também de todos os dias do ano. As
finais marcam nossa vida. Criam registros indeléveis e produzem emoções que se
refletem na imaterialidade de um não-lugar, porque em toda a cidade (todo o
País!), resultando numa sinergia irreplicável em condições normais de
temperatura e pressão – e os caras querem tirar isso da gente, como se nos
fizessem um favor por imitar o futebol europeu com sua justiça e hábitos
inexoráveis, é mole?
Pergunte, portanto, o dadivoso
leitor a qualquer torcedor medianamente conectado ao mundo da bola, qual foi o
grande dia do futebol tupiniquim, no corrente ano, e terás como resposta inescapável
a primeira partida da Final mineira da Copa do Brasil, entre o Galo e a Raposa.
Nenhuma outra peleja despertou tamanho interesse e expectativa. Nenhuma partida
foi tão aguardada, acompanhada ou celebrada por tantos torcedores, de tantas
agremiações diferentes, pais afora – algo deveras sintomático.
É inegável que o sistema de
pontos corridos gere, além de tédio, tal gama de deturpações, que não seria precipitado
pensarmos na implementação imediata de um novo modelo que atenda às demandas
culturais do torcedor brasileiro, principalmente no tocante aos quesitos “emoção
e imprevisibilidade”. Que os mentecaptos da CBF deixem a bola rolar solta, sem
o cabresto de fórmulas tão claras quanto chatas. E que tenham os velhacos da
cartolagem clarividência e criatividade, pois, do contrário, haja ânimo para
suportar o Sonolentão 2015...
foto: joão sassi