quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Diego Costa e a Lei de Gérson


Oxalá, Diego siga sendo apenas um
rosto desconhecido aos nossos olhos...
Dinheiro.

Nenhuma outra circunstância se mostrou tão relevante como o “faz-me rir” no momento em que Diego Costa via seus ovos frigirem. É a deixa perfeita para emo(na)cionalismos aflorarem e o Brasil eleger um novo vendilhão. Podem apostar; nenhum político, até o final do próximo pleito eleitoral, terá recebido críticas tão severas como as que serão imputadas ao novo delantero de La Roja por conta de seu tão recente quanto surpreendente amor declarado à Espanha.

Todos os sonhos nascem puros, e Diego certamente sonhou em ser o novo Ronaldo quando, então com 14 anos, viu o Gordo barbarizar em gramados nipo-coreanos, trazendo o Caneco pra cá. Diego não tinha uma estratégia malévola para enriquecer, que não mostrando ao mundo que Lagarto, em Sergipe, havia produzido um artilheiro de primeira grandeza.

A vida teimava em dizer que não, fazendo-o perambular por aqui e por acolá. Saiu cedo de casa, da cidade, do país e até do continente. Ralou e quase foi esquecido, mas deu um nó na peia do destino e, aos 25 anos, apareceu como estrela do time-sensação do atual campeonato de bola, na terra da castanhola. Até ontem o cara não era ninguém por aqui. Contudo, devido à atual conjuntura (Fred baleado, Pato afogado, Jô escolado, Damião apagado), é ele quem nos convém, embora haja, nessa história, um enorme porém...

Enquanto age por conta de seus próprios interesses, é a CBF quem aparece na foto; é ela, por meio de inqualificáveis elementos como Mr. Teixeeeeeeeeeira e José “Medalha” Marin, que assina contratos e vende a alma da cultura nacional a xeiques árabes e multinacionais norte-americanas. Mas na hora do apuro, quando se faz notar que o caldo entornou e que a principal ameaça ao hexa-campeonato descolou um centro-avante de responsa, apela, ridícula e humilhantemente, ao patriotismo dos atletas em nome da “Seleção Brasileira” e de milhões de torcedores... Como escreveu o jornalista e blogueiro Menon, custava ligar pro cara antes (da merda feder)? Por que passar pelo vexame de tomar um toco em cadeia internacional? Quem faz papel de idiota? O Diego ou a Seleção?

É por essa e por outras que o Complexo de Vira-latas em Pindorama não pode ser considerado suplantado. Aliás, duvido que se tenha feito tanto auê quando o Mazzola virou a casaca, indo defender a Azurra em 62, logo após haver se sagrado campeão do mundo em 58, jogando com a Amarelinha. O cara quer ir, deixa ele ir! Laissez faire, laissez aller, laissez passer...

Pelo Brasil, Diego teria de passar pelo mesmo calvário que Hulk - também nordestino e desconhecido (um duplo pecado para nossa mentalidade colonialóide!) – para poder ao menos lutar por uma vaga no ataque. E mesmo com gols, seria execrado à primeira falha, visto que não tem história ou empatia com nenhum time ou torcedor em paragens tupiniquins. Seria faca nos dentes até conseguir atingir o imaginário popular, uma tarefa hercúlea para quem já caiu nas graças do povo de lá. Se ele jogasse mal até a Copa, ainda assim seria convocado pelo Bigodón deles. E aqui, o que seria se ele não marcasse nenhum gol nos próximos quatro amistosos? Castravam esse fidumaégua! Ademais, teria dito uma voz melosa ao seu ouvido, “melhor garantir a participação em uma Copa do que não jogar nenhuma”...

É natural que a massa se revolte contra aquele que, tendo nascido em solo pátrio, renega a possibilidade de defender suas cores. Mas convém enxergar além para se entender o porquê dessa postura aparentemente déclassé. É o caso de se voltar ao tema e refletir; quem entra em campo: a CBF ou o Brasil? Conforme escrevi neste espaço borogodense, pouco mais de um ano atrás (O Patriota Idiota e o Time da CBF), está cada vez mais difícil convencer o torcedor (e o próprio jogador) de que A representa os interesses de B.

Ou seja, se antes não se contestava Nelson Rodrigues, ora se tem a impressão de que a Confederação roubou as chuteiras da Seleção, deixando a Pátria descalça e sem representação.

Diego Costa não poderia ser mais brasileiro do que é, e é aí que reside nosso inconformismo. Mesmo na carta em que revela sua opção profissional, ele não esconde sua nacionalidade ao expressar-se parcamente em sua própria língua mater – e olha que ele deve ter recebido cola da assessoria!

Não há, portanto, preocupação quanto ao carinho que ele carrega pela suas origens. Há, é notório, que se entender de uma vez por todas que nossa seleção foi usurpada da população, dando lugar a uma corporação que em nada faz lembrar a cultura da nação, senão por querer sempre se dar bem, mesmo estando habitualmente envolvida em suspeitas de corrupção.

Diego, portanto, não disse “não” ao Brasil, mas à CBF. Zé Medalha e Filipón já deveriam ter aprendido com o Teixeirówski: seja no mundo dos negócios, seja na vida pessoal, não importa; o brasileiro gosta de levar vantagem em tudo, certo?


PS: Aproveito e mando um salve pro Canhotinha, que leva o nome de uma lei descarada, mas é boa-praça!!


imagem: joão sassi