Fé na lista; Alecgol treina em segredo, com afinco. |
Respondam
os atentos leitores, antes mesmo de engolir a saliva na garganta: o que têm em
comum Serginho Chulapa, João Nunes Danado e Hernane Brocador? Relaxem, pois já
lhos digo: são todos artilheiros, gente que sabe botar a bola pra dentro do gol.
Por esta qualidade – e por tentos providenciais em títulos e finais - foram e
são, até certo ponto, idolatrados pelas massas das arquibancadas (quando do
tempo das massas e das arquibancadas, claro).
Ademais, compartilham o fato de serem uns perebas de marca maior, não tendo a mais
insípida noção do que se pode fazer com uma bola de couro, longe da grande área.
Dão de canela ou de joelho, embora saibam se posicionar. Faço aqui justiça, dando um desconto ao
Nunes, quem colecionou também algumas arrancadas fulminantes e mesmo dribles
desconcertantes, como o aplicado no zagueiro Silvestre, do Galo, no terceiro
gol da final da Taça de Ouro de 80. Tão somente exceções, porém. De modo
geral, são todos vinhos (?) da mesma safra, algo avinagrados, com falta de
técnica e de estilo gritantes.
A
diferença entre esses goleadores de um toque só, a despeito da aposentadoria
dos dois primeiros, se dá por estes haverem tido portentosos esquadrões ao entorno,
enquanto Hernane conta com esforçada, porém limitada equipa a municiar-lhe a
goleadura.
Apaniguado
por craques, Nunes foi simplesmente campeão regional, nacional, continental e
mundial pelo melhor Flamengo de todos os tempos, enquanto Serginho levou inúmeros
“paulistinhas”, o bi-nacional e, mesmo sendo bijuteria, estava juntos às jóias
canarinho, como centroavante da Seleça de 82. O filme oficial da FIFOTA sobre
aquela edição da Copa faz sintomática menção ao Chulapa, quando o narrador cita
“um raro momento em que o desengonçado centroavante brasileiro consegue
realizar um movimento articulado”...
Quanto
ao Brocador, descontando o deleite de haver nascido às margens do Velho Chico, na abençoada Bom Jesus da Lapa, conquistou pouco (muito pouco, quase
nada) para que suas glórias sejam comparadas às dos outros dois pernas-de-pau.
Contra ele, além da falta de talento para dominar a bola, há um Flamengo
indigno de suas tradições, íntimo das zonas de rebaixamento e das
desclassificações vexatórias, pouco afeito a lhe dar boa vida.
O
baiano chegou à Gávea sob severa desconfiança, tendo de disputar um lugar ao
sol. Mas mostrando que carne de calango é banquete no sertão, conquistou a
galera e uma vaga no time, posando de jogador principal nas campanhas
publicitárias do Mengão. Mas aí então, veio uma joelhada maldosa e lá foi nosso
goleador para o estaleiro, ó, Deus.
Não
sei se pelo destino, mandinga, providência divina ou ocasião, mas essa contusão
é uma bênção pro técnico Jaime, pois o reserva se encontra em ótima situação.
Ele já foi conhecido por ser o filho do Lela, careteiro ponta-direita do Coxa
Campeão Brasileiro de 85, e também por ser irmão de Richarlysson, espevitado
lateral do Galo. Hoje, consciente do que é jogar pelo Flamengo, Alecsandro está
amadurecido e confortável no papel que ora desempenha; é, com autoridade, o
novo “camisa 9” do Mengo.
Entendo
aqueles que torcem o nariz pro cara – já fui assim! Sei que ele tem aquele
jeito meio insosso de ser, quase antipático (nisso, o testão, o cavanhaque e
os dentões de coelho não ajudam em nada), mas não dá para virar a cara pro
currículo do rapaz. Desde que despontou pro futebol brasileiro, pelo Cruzeiro, em 2006, ele nunca teve
um desempenho medíocre por onde quer que tenha passado. Foi reserva no Atlético Mineiro,
na temporada passada, por opção tática do Cuca. Fora isso, são mais de sete
anos mostrando serviço! Não somente fazendo muitos gols (alguns, lindos de
doer), mas também contribuindo para a armação das jogadas. Basta lembrar o
golaço de bicicleta pelo Bacalhau, contra a Lusa, ou o primeiro gol marcado
contra o Palmeiras, no último domingo, respectivamente, para se dar conta de
sua capacidade técnica. Fora isso é lutador, eficiente e não tem medo de cara
feia. E, principalmente, sabe pensar; é inteligente.
Alecsandro
está com 33 anos e não está disposto a perder os holofotes que o maior time do
Brasil lhe dá. Ele está na pilha para dar o máximo de si e o Flamengo, desde
Romário, mais que precisa de alguém que saiba cuidar da pequena, lá na frente.
Tendo iniciado a temporada na reserva, já marcou 14 gols – mesmo número de
Hernane(6), Paulinho(5) e Nixon(3), juntos.
O
craque tricampeão Paulo Cézar Caju disse, hoje, que o Brasil “está cheio de
volante e cara alto”, além de ser um “time feio porque dá porrada e não deixa o
adversário jogar”. Se eu fosse o Felipão, eu escutava o PC, aproveitava o
ensejo e armava uma surpresa de última hora. Para quem já teve um Chulapa no
lugar de um Careca e um Grafite no lugar de um Imperador, convenhamos; um Alecgol não ia
fazer pior no lugar de um Robinho ou de um Jô (que, aliás, até se machucou)... Tempos
bicudos, Brasil!
foto e arte: joão sassi
- Atenção, este é um depoimento totalmente idiossincrático e nada técnico -. Ainda bem que Felipão não te ouviu! Nada contra o futebol desse menino Alecsandro, um oásis no atual deserto rubronegro. Mas a grafia do nome dele é um atentado à beleza da Última Flor do Lácio. Prefiro Maicon, na moral! Porque não atende por Lelinha ou Lelinho? Seria uma bela maneira de homenagear o pai, mas parece que jogador de futebol não gosta mais de usar apelidos - entre os vinte e três convocados da seleção só dois o fazem. Mas o pior de tudo é aquela horrorosa comemoração dos gols. Diz ele que é uma homenagem ao pai. Então, meu rapaz, fique comemorando seus tentos longe da seleção ...
ResponderExcluirBela idiossincrasia, Márcio! Sabemos que o apelido se tornou um fator que empobrece a "marca" que ora representa o jogador. Ao que me consta, tudo começou com nosso amigo Robolão, quem gostava da alcunha R9. De lá pra cá, qualquer perna de pau passou a investir nessa mesma forma de marketing - certamente algo que agrada muito mais às gerações de agora do que de outrora; Pelé, Zico, Didi, Mané... Sem comparação! Aliás, até mesmo essa mania de acrescentar o "gol" após o nome (Robgol, Alecgol, Damigol, etc) é também deplorável. Só usei no título como forma de marketing, hehehe...
ExcluirNo mais, digo que a comemoração do Lela era mais harmoniosa porque ele tinha as pernas arqueadas (estilo cowboy) e saía correndo após marcar um gol, parecendo um palhaço no picadeiro. Já seu rebento, precisaria ver uns vídeos antigos para melhorar essa homenagem, pois do jeito que tá, tá maus!