terça-feira, 6 de maio de 2014

Alecgol é Seleção!

Fé na lista; Alecgol treina em segredo, com afinco.
Respondam os atentos leitores, antes mesmo de engolir a saliva na garganta: o que têm em comum Serginho Chulapa, João Nunes Danado e Hernane Brocador? Relaxem, pois já lhos digo: são todos artilheiros, gente que sabe botar a bola pra dentro do gol. Por esta qualidade – e por tentos providenciais em títulos e finais - foram e são, até certo ponto, idolatrados pelas massas das arquibancadas (quando do tempo das massas e das arquibancadas, claro).

Ademais, compartilham o fato de serem uns perebas de marca maior, não tendo a mais insípida noção do que se pode fazer com uma bola de couro, longe da grande área. Dão de canela ou de joelho, embora saibam se posicionar. Faço aqui justiça, dando um desconto ao Nunes, quem colecionou também algumas arrancadas fulminantes e mesmo dribles desconcertantes, como o aplicado no zagueiro Silvestre, do Galo, no terceiro gol da final da Taça de Ouro de 80. Tão somente exceções, porém. De modo geral, são todos vinhos (?) da mesma safra, algo avinagrados, com falta de técnica e de estilo gritantes.

A diferença entre esses goleadores de um toque só, a despeito da aposentadoria dos dois primeiros, se dá por estes haverem tido portentosos esquadrões ao entorno, enquanto Hernane conta com esforçada, porém limitada equipa a municiar-lhe a goleadura.

Apaniguado por craques, Nunes foi simplesmente campeão regional, nacional, continental e mundial pelo melhor Flamengo de todos os tempos, enquanto Serginho levou inúmeros “paulistinhas”, o bi-nacional e, mesmo sendo bijuteria, estava juntos às jóias canarinho, como centroavante da Seleça de 82. O filme oficial da FIFOTA sobre aquela edição da Copa faz sintomática menção ao Chulapa, quando o narrador cita “um raro momento em que o desengonçado centroavante brasileiro consegue realizar um movimento articulado”...

Quanto ao Brocador, descontando o deleite de haver nascido às margens do Velho Chico, na abençoada Bom Jesus da Lapa, conquistou pouco (muito pouco, quase nada) para que suas glórias sejam comparadas às dos outros dois pernas-de-pau. Contra ele, além da falta de talento para dominar a bola, há um Flamengo indigno de suas tradições, íntimo das zonas de rebaixamento e das desclassificações vexatórias, pouco afeito a lhe dar boa vida.

O baiano chegou à Gávea sob severa desconfiança, tendo de disputar um lugar ao sol. Mas mostrando que carne de calango é banquete no sertão, conquistou a galera e uma vaga no time, posando de jogador principal nas campanhas publicitárias do Mengão. Mas aí então, veio uma joelhada maldosa e lá foi nosso goleador para o estaleiro, ó, Deus.

Não sei se pelo destino, mandinga, providência divina ou ocasião, mas essa contusão é uma bênção pro técnico Jaime, pois o reserva se encontra em ótima situação. Ele já foi conhecido por ser o filho do Lela, careteiro ponta-direita do Coxa Campeão Brasileiro de 85, e também por ser irmão de Richarlysson, espevitado lateral do Galo. Hoje, consciente do que é jogar pelo Flamengo, Alecsandro está amadurecido e confortável no papel que ora desempenha; é, com autoridade, o novo “camisa 9” do Mengo.

Entendo aqueles que torcem o nariz pro cara – já fui assim! Sei que ele tem aquele jeito meio insosso de ser, quase antipático (nisso, o testão, o cavanhaque e os dentões de coelho não ajudam em nada), mas não dá para virar a cara pro currículo do rapaz. Desde que despontou pro futebol brasileiro, pelo Cruzeiro, em 2006, ele nunca teve um desempenho medíocre por onde quer que tenha passado. Foi reserva no Atlético Mineiro, na temporada passada, por opção tática do Cuca. Fora isso, são mais de sete anos mostrando serviço! Não somente fazendo muitos gols (alguns, lindos de doer), mas também contribuindo para a armação das jogadas. Basta lembrar o golaço de bicicleta pelo Bacalhau, contra a Lusa, ou o primeiro gol marcado contra o Palmeiras, no último domingo, respectivamente, para se dar conta de sua capacidade técnica. Fora isso é lutador, eficiente e não tem medo de cara feia. E, principalmente, sabe pensar; é inteligente.

Alecsandro está com 33 anos e não está disposto a perder os holofotes que o maior time do Brasil lhe dá. Ele está na pilha para dar o máximo de si e o Flamengo, desde Romário, mais que precisa de alguém que saiba cuidar da pequena, lá na frente. Tendo iniciado a temporada na reserva, já marcou 14 gols – mesmo número de Hernane(6), Paulinho(5) e Nixon(3), juntos.

O craque tricampeão Paulo Cézar Caju disse, hoje, que o Brasil “está cheio de volante e cara alto”, além de ser um “time feio porque dá porrada e não deixa o adversário jogar”. Se eu fosse o Felipão, eu escutava o PC, aproveitava o ensejo e armava uma surpresa de última hora. Para quem já teve um Chulapa no lugar de um Careca e um Grafite no lugar de um Imperador, convenhamos; um Alecgol não ia fazer pior no lugar de um Robinho ou de um Jô (que, aliás, até se machucou)... Tempos bicudos, Brasil!



foto e arte: joão sassi




2 comentários:

  1. - Atenção, este é um depoimento totalmente idiossincrático e nada técnico -. Ainda bem que Felipão não te ouviu! Nada contra o futebol desse menino Alecsandro, um oásis no atual deserto rubronegro. Mas a grafia do nome dele é um atentado à beleza da Última Flor do Lácio. Prefiro Maicon, na moral! Porque não atende por Lelinha ou Lelinho? Seria uma bela maneira de homenagear o pai, mas parece que jogador de futebol não gosta mais de usar apelidos - entre os vinte e três convocados da seleção só dois o fazem. Mas o pior de tudo é aquela horrorosa comemoração dos gols. Diz ele que é uma homenagem ao pai. Então, meu rapaz, fique comemorando seus tentos longe da seleção ...

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    1. Bela idiossincrasia, Márcio! Sabemos que o apelido se tornou um fator que empobrece a "marca" que ora representa o jogador. Ao que me consta, tudo começou com nosso amigo Robolão, quem gostava da alcunha R9. De lá pra cá, qualquer perna de pau passou a investir nessa mesma forma de marketing - certamente algo que agrada muito mais às gerações de agora do que de outrora; Pelé, Zico, Didi, Mané... Sem comparação! Aliás, até mesmo essa mania de acrescentar o "gol" após o nome (Robgol, Alecgol, Damigol, etc) é também deplorável. Só usei no título como forma de marketing, hehehe...

      No mais, digo que a comemoração do Lela era mais harmoniosa porque ele tinha as pernas arqueadas (estilo cowboy) e saía correndo após marcar um gol, parecendo um palhaço no picadeiro. Já seu rebento, precisaria ver uns vídeos antigos para melhorar essa homenagem, pois do jeito que tá, tá maus!

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