A torcida do Porco nem esperou o apito final para vibrar. |
Logo no início da transmissão de Parmêra e Coxa, pela Copa
do Brasil, o colega Maurício Noriega, comentando pela ESPN, aludiu à atmosfera
que envolvia uma final de campeonato. Não lembro exatamente quais foram suas
palavras, mas era clara a emoção que ele sentia ao frisar a contagiante vibração
coletiva da qual era partícipe. Era o tal clima de final.
Algo que não houve, por exemplo, na sombria arena onde se
realizou a primeira partida da final... Puft! Primeira partida; que papo é
esse? Final é final, e ponto final. Sou contra a realização de uma final bipartida.
Senão, vejamos. A partida de ontem - todos os que viram, sabiam,
e os que não viram, sabiam também - foi totalmente baseada no placar do
primeiro jogo, resultando num time de marcação resistindo a outro que tentaria
lhe fazer pressão; a very boring script...
Na tentativa de se fazer “justiça”, para que as duas
torcidas possam comparecer e o fator campo seja favorável a ambas as equipes –
na verdade, só para dobrar a renda -, criou-se a dupla-final, na qual, muitas
vezes, o clima é, mas pode não ser, de uma grande final; principalmente quando há
diferença de mais de um gol no “jogo de ida” – algo já feio desde sua
denominação!
De uma final eu espero o clima ao qual se referiu o Noriega;
um clima diferente, com uma “densidade diferente”, no qual toda a cidade – e não
somente os que comparecem ao estádio – pulsa no mesmo ritmo. E não é que isso
não ocorra no jogo de ida; apenas é diferente, pois o jogo de volta é que se
configura numa grande final. Só este jogo literalmente final tem condições de
propiciar o sentimento de que se está à beira do Paraíso ou do Inferno, pois
não haverá amanhã: a decisão é hoje! É o jogo final! O dia do Juízo!!!
Tal sentimento deveria ter cadeira cativa, obrigatoriamente,
em toda final, pois é nele que está aplicada toda a devoção do torcedor; é para
isso que ele torce e paga ingresso, enfrentando todo o caos que o acompanha até
seu lugar na arquibancada. Mas, não, amigos; não está!
Ontem, vos digo, este sentimento tão nobre, tão vital,
tão... Visceral!, ontem, este sentimento mal teve lugar; no mínimo, o teve em escala
muito menor do que se esperava. A primeira vez, antes do apito inicial, quando
as expectativas eram todas, de parte a parte; e a segunda, durante os míseros três minutos que separaram o gol do Coritiba do gol do Palmeiras. Somente ali,
naqueles parcos porém mágicos três minutos, o futebol viveu o ápice das
emoções que somente uma final propicia, mas que logo encontrou seu fim na cabeçada
surpresa de Bentinho. Antes dela, porém, uma torcida, enlouquecida, era pura
expectativa, e a outra, assustada, a mais pura angustia: conseguiria o Coxa fazer
o segundo? E o Palmeiras, vai segurar a onda?
Fez mais: empatou. E o jogo logo esfriou.
Dali em diante, num cenário avesso a maiores emoções, posto
que os paranaenses dependessem de mais três tentos, perdurou certo anticlímax
no Couto Pereira, até o apito final, quando, com sensação de dever cumprido, a
gurizada do Felipão pode gritar “somos campões”!
Fica a pergunta: Pode isso, Arnaldo? Pode uma final ser,
digamos, parcialmente degustada? É justo que um jogo que representa o porquê de
todas as coisas possa ter sua própria identidade diluída por fatores
precedentes? Ao imaginar que, não somente aqueles três minutos, mas que toda a
partida pudesse transcorrer em perene estado de ebulição, chego à conclusão que
o sistema poderia ser melhorado.
Por que não se inspirar, por exemplo, nas grandes decisões
europeias, nacionais e continentais, as quais não fogem ao espírito do embate
final, em campo neutro? Não é assim nas Copas da Itália, Espanha, França,
Inglaterra, etc.? Não é assim na Copa dos Campeões da Europa? Por que, então,
não se pensa em fazer o mesmo por aqui, com a escolha do palco do jogo final
com antecedência, com divisão de ingressos e estrutura de apoio ao torcedor?
Não quero menosprezar o título dos Porco, mas acho que as
duas partidas finais dessa Copa do Brasil só empolgaram aos próprios torcedores
envolvidos, pois, por alguma razão (ou várias), não se criou, em ambas as partidas,
a atmosfera de luta e vibração que se espera de jogos assim.
Tenho minhas dúvidas se funcionaria bem no Brasil uma final, por exemplo, definida previamente por sorteio para acontecer em Fortaleza, mas envolvendo times de São Paulo e Rio Grande do Sul. Em tese a idéia é boa, mas só o fato das finais da Copa do Brasil serem sempre no meio da semana (mais uma estupidez da CBF) já complica qualquer projeto turístico mais sensato/completo, prevendo venda de pacotes para o fim de semana, já incluindo hotel, ingresso, etc. Não acompanho as copas européias, mas sei que a final da NFL, na terra do tio sam, é sempre num domingo, com as torcidas chegando à cidade desde sexta-feira, o que faz muito mais sentido.
ResponderExcluirPois é, Márcio, mas creio ser o caso de uma reflexão. A grande final, por exemplo, poderia ser disputada num Domingo à tarde, trazendo a rodada do Brasileirão para o meio da semana; o contrário do que ocorreu ontem, portanto.
ExcluirE a CBF teria de participar ativamente na organização da final, inclusive facilitando a vinda de torcedores que morem em outros estados. Imagino que mesmo os torcedores de outros times se sentissem mais à vontade para torcer por um dos dois finalistas, como foi o caso da Final do Brasileirão de 85, quando Bangu e este mesmo Coxa colocaram mais de 100 mil no Maraca - sendo a maioria torcedora de outras equipes.
O que não dá, na minha opinião, é correr o risco de ver uma final comprometida por algo que ocorreu num outro jogo.
Abraço!
Você resumiu bem, em inglês, a partida de ontem:
ResponderExcluir"a very boring script..."
Obrigada por mais este caldo de cultura futebolística.
Beijos,
Sam
Eu não sei o que os palmeirenses e, principalmente, os coxas acharam dos jogos, mas eu os achei realmente chatos, Samantha.
ExcluirSempre na filosofia da bola!
Abração,
El D.T.